Você já teve uma amiga falsa? Aquela pessoa que se aproxima docemente, não economiza sorrisos ou elogios e, devagarinho, entra no seu dia a dia? Uma hora você percebe que ela já participa de grande parte da sua vida e sabe muito sobre você. E começa a sentir alguma coisa estranha, como se ela na verdade quisesse estar no seu lugar, ou ainda se aproveitar daquilo que você alcançou.
Eu tive uma amiga falsa na faculdade. Ela parecia um amor de pessoa, sempre meiga e delicada. Era um pouco frágil também e por isso despertava o sentimento de cuidado, dava vontade de ajudá-la. Às vezes eu tinha a sensação de que fazia muito por ela e não recebia quase nada em troca. Mas então me sentia egoísta e mesquinha, por isso afastava esses pensamentos.
Um dia um amigo que estudava com a gente jogou na minha cara, sem piedade:
– Ela não é sua amiga.
Fiquei magoada, achei que ele queria gerar intriga. Mas ele era amigo de verdade e me mostrou uma série de situações estranhas entre mim e ela. Não eram grandes acontecimentos, ou eu mesma teria notado. Mas eram muitos. Coisas assim, por exemplo: quem sempre fazia os trabalhos em nome das duas? E quem aparecia mais na hora da apresentação?
Ele me mostrou também que, se eu comprava uma roupa, ela precisava comprar igual. Se fazia um curso extra, ela queria fazer também. Mais que isso, ela sempre tentava desmerecer minhas pequenas conquistas, mostrando como as dela eram mais significativas. Tudo com delicadeza, por isso era difícil identificar a maldade.
Depois que você percebe
Desde esse dia abri meus olhos e comecei a observar melhor. Ainda era difícil não ajudá-la e me afastar – sobretudo porque ela sempre dava um jeito de estar perto de mim. Mas comecei a me sentir menos culpada, e foi então que ela usou a fragilidade pra comover nossos amigos em comum. Eles queriam saber por que eu estava “abandonando uma grande amiga”.
Nesse momento comecei a ficar ressentida. A torcer pra que as coisas dessem errado pra ela, pra que ela não frequentasse mais os mesmos lugares que eu. E então essa falsa amizade realmente intoxicou minha vida. Eu já não permitia que ela me usasse, mas fazia pior: eu mesma me causava mal, me tornava rancorosa. Se ela chegava aonde eu estava, eu procurava sair discretamente; se alguém me falava sobre ela, eu tinha uma alfinetada em resposta.
Gastava um tempo enorme pensando coisas negativas e planejando como me afastar cada vez mais dessa amiga falsa. Nós fazíamos um curso extra na mesma turma, e eu estudei muito e consegui passar pra uma turma mais avançada. Foi um grande alívio, porque assim eram três tardes inteiras sem ter de encontrá-la. Mas, dois meses depois, pra minha surpresa, o professor veio falar comigo:
– Tenho uma boa notícia pra você! Adivinha quem foi aprovada e vai estar aqui com a gente na semana que vem??? Isso mesmo, sua grande amiga!
Efésios 4:31 bem na minha vida
Nem preciso dizer a sensação de raiva e impotência que bateu. Quando você está dominada por maus sentimentos, tudo parece maior e mais trágico do que realmente é. Liguei pro amigo que abriu meus olhos e ele disse, com tranquilidade:
– Mas você não ficou esperta e já não deixa mais que ela te use? Então qual a necessidade de pensar nisso? Você está fazendo o que é importante pra você? Ou está tentando se achar melhor que ela? Se você ocupa seu tempo desejando coisas ruins não é ela que está te fazendo mal, é você mesma.
Nada como alguém dizer o óbvio, não é? Porque entendi na hora: o mal que comecei a desejar a ela não ia voltar pra mim, ele já estava em mim. Já intoxicava meu cotidiano a ponto de não encontrar prazer em um curso de que eu gostava tanto, por exemplo. Então orei e pedi a Deus que tirasse aquele rancor de dentro de mim. E, devagarinho, Ele me ajudou a substituir a amargura por emoções positivas; no final do curso eu nem percebia mais a presença dela.
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Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. (Efésios 4:31 – NVI)